fevereiro 14, 2014

Aquele que decidiu morrer...





   Aquele tinha sido um maldito dia,João tinha trabalhado muito, e muita coisa do que ele tinha feito tinha sido recusada, ele não tinha o melhor emprego do mundo, nem ganhava muito, não tinha muito com o que gastar e se sentia bem até aquele momento, seu problema era o amor. 
 João era um cara solitário, nunca conseguiu ter muitos amigos, ele via os colegas falando; fulano é meu melhor amigo, cicrano é meu melhor amigo, João não sabia o que dizer,não entendia, ele nunca tinha tido um amigo normal, imagina um melhor amigo. Dai ele encasquetou com a ideia de que quando tivesse uma namorada ela seria a melhor amiga dele de verdade, ela saberia dos segredos, dos sonhos, do que faz João feliz, do que faz ele triste, e é claro que também sonhava com que essa menina dividiria as ideias dela com ele, mas nunca foi fácil.
 Todo mundo que "conhecia" dizia que ele se apaixonava fácil, coitado, só se apaixonou de verdade três vezes na vida, e nenhuma desses três mulheres se quer ficaram com ele porém, ele teve algumas namoradas...não muitas até por que ele não era lá um cara muito bonito, ele era fora de forma, tentava se cuidar mas pelo jeito não conseguia tão bem, na pouca sorte que a vida deu namorou 4 vezes...namoros longos,arrastados, cheios de erros e falta de amor, parecia que namorava aquelas meninas como quem tem que ir trabalhar todo dia as 4 da manha em um trabalho que detesta ...não era tão ruim,só não era o que João queria.  
 Naquele mês ele conheceu uma menina, uma menina que dividiu os sonhos com ele, linda ela era, os gostos bateram e, mesmo morando longe e sem contato físico nenhum ele ficava completamente excitado e a menina dizia que também ficava ...e parecia ficar até mais que ele. Pronto, João tinha encontrado aquela menina que ele queria tanto. 
 Mas aquele dia era o dia de merda dele, entre "não,isso está errado, muda!", "tem como fazer diferente isso?"  e tantas outras rejeições no trabalho a menina diz pra ele; desculpa, mas eu estou namorando outro, nos moramos muito longe sabe, não da pra gente ficar junto. Mais uma vez os sonhos do cara foram estraçalhados, ele não sabia o que dizer, nem o que fazer, até por que não existia nada a se fazer e logo naquela semana que ele tinha armado tudo pra ir ver sua tão sonhada menina. Aquela tarde João chorou.
 Foi no banco e voltou pra casa, já era bem tarde da noite quando João sentou na sua cama, desligou o celular, desligou o computador depois de praticamente discutir com a  menina, aquela que de certo seria a ultima conversa dos dois, não quis jantar, deitou e começou a pensar. Já tinha 30 anos, tudo estava errado na vida dele, ele não se via ali a uns 10 anos atras, ele não queria estar como estava a 5 anos atras e mesmo tendo lutado ele estava no mesmo lugar, do mesmo jeito, desejando a mesma coisa, era muita decepção pra uma vida só ...João estava cansado.
 Já que aquele era um dia de merda, por que não aloprar de vez. Ele detestava sair sozinho mas para aquela ocasião, com aquelas intenções ele não precisava de companhia, precisava apenas beber.
 Era quase uma da manha, João saiu naquela noite quente de verão, daquele dia mais que filha da puta, desceu a rua direto pra aquele bar escondido, aquele bar que tem bebida boa, bebida cara e que ele adora tanto, sentou na cadeira, aquelas de plástico com a marca de uma cerveja qualquer estampada, percebeu que detestava é sentia falta daquelas de metal que existia antigamente, se encostou na mesa e foi logo pedindo uma garrafa daquela porra de whisky americano que ele amava ...vou logo beber uma garrafa. Pensou João.
  Matou 2 garrafas e mais 6 cervejas, mal conseguiu tirar o dinheiro da carteira pra pagar a conta direto, tudo girava, as pernas tremiam, mas ele conseguiu disfarçar e sair do bar, na verdade nem tinha certeza se deu o dinheiro certo, mas ele ouviu alguém dizer; buceta é um troço complicado, ou o cara fica pobre ou o cara fica maluco e bebe até morrer ...mulher meu amigo, talvez seja a pior parte da buceta. 
 Ele só sorriu e pensou que aquelas eram palavras que ele não queria ter ouvido.
 Subiu a rua na direção contrária de casa, queria continuar, ir até o fim, aquele bar não estava mais legal de ficar, era melhor andar, gastar a bebedeira, arrumar uma briga. E aquele início de bebedeira estava tão forte que derrubou João no chão, derrubou tão forte que a onda alcoólica pareceu aumentar, o mundo girava mais rápido. 
 Na cabeça dele fazia força pra levantar, mas não saia do lugar, pessoas passavam e não ligavam pra aquele bêbado João derrubado na calçada, em silêncio se remexia, se sacudia e nada de levantar, até q vomitou, botou pra fora pelo menos as cervejas que bebeu e depois daquilo,talvez a onda ficaria menos forte, isso na cabeça dele.
 Algum tempo depois, se apoiando em um carro João levantou, conseguiu andar, enxergar sem sentir o mundo rodando demais e alguns metros dali avistou um traficante. O sujeito armado, sozinho fazia sua rotina diária de vender seu produto, João sempre odiou drogas e viu aquela como uma boa situação de confrontar alguém, não se importava com riscos e ainda conseguir o que ele tanto procurava. Olhou diretamente pro sujeito e num berro violento disse; 
-A vaca da tua mãe tinha que ter vergonha de ter um filho vagabundo. Aliás vagabundo não, profissional em foder a vida alheia.
 - que porra é essa cupade! Ta maluco? Quer morrer? Gritou o sujeito vindo na direção do bêbado e imbecil João.
 -se tu num tivesse essa arma ai, eu ia te quebrar inteiro seu merda! Respondeu João.
-maluco... O sujeito já estava a um passo de João e com a pistola na mão apontou pra João -...eu vou te encher de tiro seu filha da puta!
 -vai nada rapa! Deixa a porra do bêbado pra lá! Aliás vamos dar uma surra nele, ai ele vai pra casa com o couro quente! Disse um outro traficante, amigo do sujeito saindo com mais dois da rua ao lado.
-já é! Respondeu o sujeito já colocando o primeiro soco na fuça alcoolizada do João. 
 João nunca tinha apanhado tanto na vida, nem da mãe dele quando moleque, nem dos coleguinhas que não gostavam dele na escola. Já era de manha quando João se viu banhado em sangue, caído na rua, sozinho, nem os traficantes por perto e pior de tudo, sóbrio sentindo a dor e o calor de cada soco levado.
 Cambaleante e em passos lentos seguiu pra casa, não tinha nem forças pra chorar tamanha era dor, nem queria saber de hospital, só queria tomar um banho e dormir, abriu a porta e subiu, 10 horas da manha marcavam os ponteiros do relógio quando ele conseguiu abrir a porta.
 O sangue descia pela ralo junto com a água, só sentia dor e esse talvez parecia um sinal de que continuaria vivo, encostou na parede enquanto a água caia e lavava todos os machucados produzidos por aqueles meliantes. João pensava se ele conseguiria ter paz, esquecer aquele dia de merda e descansar. Colocou uma bermuda depois de alguns minutos de dor tentado, quase que em vão colocar as pernas dentro dos buracos da bermuda, pegou uma caixa dos comprimidos anti depressivos que um amigo havia lhe dado meses atras, colocou num copo, pegou uma garrafa de vodca esquecida na geladeira, encheu o copo e bebeu com os comprimidos. Deitou e em menos de 5 minutos de lembranças vazias João apagou.
 Mas não, ele não morreu, havia outros dias pela frente, outros dias desejando encontrar aquela amiga que ele tanto sonha e esquecer mais uma vez de um alguém que não passou de ilusão.
 E pelo menos nessas ilusões ai João, você não está sozinho.

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